20 novembro 2009

O artista + O disco (Mayer Hawthorne - A Strange Arrangement

Mayer Hawthorne
A Strange Arangement




Ao ouvir este disco, ficará qualquer um e, com quase certeza absoluta, convencido que se trata de qualquer trabalho de soul clássica, editado algures pelo final dos anos cinquenta, início dos anos sessenta. Olhando depois para a fotografia deste Senhor; Senhor por muitas razões, excepto pela óbvia, o ar jovial deste rapazola de 30 anos; fica-se, já não com a certeza absoluta mas ainda com alguma segurança de que, pelo aspecto da fotografia, estamos na década de cinquenta ou de sessenta. A certeza esfuma-se talvez pelo facto do rapazola da fotografia ser branco e do género, a soul, estar inicialmente associado aos negros, mas olhando ainda por ooutro lado poderia fazer parte da "Blue Eyed Soul", a soul de brancos para brancos, que surge por meados dos anos sessenta.


Todas estas suposições caem por terra ao ouvir uma segunda vez e ao não econtrar nenhuma imperfeição exagerada na qualidade de áudio, característica das gravações da época. Em todos os outros aspectos, ou quase todos, já lá irei, Mayer Hawthorne encaixa na época de ouro da soul, de Menphis ao Tennessee, da Stax Records à Motown.


Mayer Hawthorne, ou Andrew Cohen como lhe chamaram os pais, nasceu em Anne Arbor, colado a Detroit, no estado Norte-Americano do Michigan. A contaminação da rica história de soul e jazz da cidade parece inevitável. Isaac Hayes, Leroy Hutson, Mike Terry, Barry White, Smokey Robinson ou Curtis Mayfield, são alguns dos nomes que Hawthorne recorda das viagens de carro com o pai que era músico. Não pertence ao grupo dos que têm formação vocal de coro de igreja, nem dos que tiveram uma formação profissional em instrumentos (desistiu das aulas de piano por ser demasiado novo) mas parece que a receita resultou apenas com dois ingredientes; primeiro, a influência do pai enquanto músico que acabou por lhe ensinar a tocar baixo, e segundo, ter nascido e sido criado em Detroit. Mas Andrew Cohen não cresceu apenas a ouvir clássicos soul com este ar de cromo. Ouvia metal, The Police e Smashing Pumpkins. Já adolescente apaixonou-se pelo Hip-Hop e assim foi ganhando a vida, passando discos e produzindo para a malta do Hip-Hop.A sua ascenção é no mínimo curiosa. Muda-se para Los Angeles (ainda com o Hip-Hop no sangue), mas teve a sorte, ou o azar, de conhecer Peanut Butter Wolf, patrono da editora Stones Throw que lhe pediu para ouvir algumas das coisas que produzia. Wolf não reconheceu duas delas, sim não reconheceu, nem sequer imaginou que seriam de Cohen e perguntou -lhe que clássicos soul eram aqueles no meio dos temas que lhe tinha entregue. Antes de se render aos factos Wolf ainda questionou Cohen se seriam re-edits de algum artista que não estava a reconhecer. Pois bem. Eram assim tão boas, que pareciam saídas directamente de uma máquina do tempo acabada de aterrar 2009, perdidas na demo de Cohen.

Cohen, aceitou o convite de Wolf e editou, como Mayer Hawthorne, a que pode muito bem ser considerada, a melhor surpresa soul desde a década de setenta. Resultado: A Strange Arangement, um álbum harmoniosamente construído, combinando deliciosos arranjos de piano, sopros metálicos em quantidade apenas suficiente e só e apenas quando a música os pede, letras carregadas de mel, quase lamechas, sempre com o sexo feminino como referência, uns coros que ajudam a encobrir o aspecto que mais acima referia, a não tão boa capacidade vocal de Hawtorne quando comparada com a precisão da composição instrumental. Sim, o rapaz pode não ter a voz de Marvin Gaye ou Curtis Mayfield, mas vejamos, compôs, toucou e masterizou todo o álbum, praticamente sozinho, exepto em alguns dos coros. Não é de homem, é de Senhor.

"Just Ain't Gonna Work Out" entra no ouvido como qualquer música pop com uma incrível astúcia, a voz de Hawthorne em falsete, uma simples linha de baixo e um coro a poucas vozes a fechar a receita. "Your Easy Lovin' Ain't Pleasin' Nothin" põe o maior pé-de-chumbo a dançar a um rito frenético. Mesmo a puxar pela voz, com "I'm sorry" Hawthorne derreteria o coração de qualquer adolescente há 50 anos atrás. Em "Maybe so, maybe no" os arranjos de metais e agudos tiros vocais dão ao tema um ar bem mais funky.

Para ouvir e deixar-se viciar. Não será com certeza difícil. O disco não faz, de todo, jus ao nome. A Strange Arrangement tem de tudo, menos arranjos estranhos. Já disponível pela Stones Throw em vários formatos.

Um ex-DJ de HIP-Hop a ter em conta.


Quem: Mayer Hawthorne

O quê: A Strange Arangement

Onde comprar: Em breve na FLUR, http://www.flur.pt/; Juno Records, CD €13.38

TrackList:
1 Prelude
2 A Strange Arrangement
3 Just Ain't Gonna Work Out
4 Maybe So, Maybe No
5 Your Easy Lovin' Ain't Pleasin' Nothin'
6 I Wish It Would Rain
7 Make Her Mine
8 One Track Mind
9 The Ills
10 Shiny & New
11 Let Me Know
12 Green Eyed Love
Para ouvir aqui

Vídeo - Just ain't gonna work out


Mayer Hawthorne Myspace

Stones Throw Site

Deixem as vossa opiniões.

Tiago Mata

1 comentário:

Diogo disse...

Sem dúvida um disco do caraças. E para quando novos posts???

 

blog graphics
Piperlime Shoe Store